O conceito mais aceito foi criado por Knight (2004) e a define como “processo de integração de uma dimensão internacional, intercultural ou global, na finalidade, nas funções ou na oferta de instituições e sistemas de educação pós-secundária”. Outros autores articulam essa descrição com a incorporação de valores de sustentabilidade, bem como de inclusão social, visando beneficiar todos os alunos. Desde 2011, estudiosos como Hans de Wit apontam a internacionalização como o futuro da educação superior. Nele, as instituições passariam a se organizar e operar integrando parcerias internacionais e redes de colaboração em suas atividades de ensino, pesquisa e extensão. Só assim a universidade seria capaz de assumir o papel de ator-chave da sociedade global do conhecimento e atender o que segmentos sociais e econômicos esperam dela.
A mobilidade é um componente das políticas de internacionalização que abarca uma gama muito maior de ações. A internacionalização começou pela mobilidade e evoluiu, a partir da avaliação dos resultados obtidos, de pesquisas e dos desafios trazidos por mudanças sociais, econômicas e políticas. Desde 2011, houve uma inflexão na forma de encarar a internacionalização que deixou de ser um fim em si mesmo, como acontecia no tempo em que se limitada a ações de mobilidade. A partir de então, entende-se esse processo como um meio ou ferramenta fundamental para promover qualidade da educação, produção de ciência global relevante e de pesquisas com impacto econômico e social. Na América Latina em especial, a necessidade de democratizar o acesso aos ganhos possíveis a partir da internacionalização a todos os estudantes têm aumentado o foco na internacionalização do currículo, como componente-chave do processo.
São todos termos utilizados para se referirem ao mesmo processo de trazer uma dimensão internacional, intercultural e global ao currículo tanto em seus aspectos formais, quanto informais e ocultos. IOC é a sigla em inglês para Internationalization of the Curriculum, usado na Austrália, onde se originou o IOC Global. O IaH, significa Internationalization at Home, nomenclatura adotada em diversos países, mas que exclui as ações de mobilidade, enquanto o IOC as inclui em seu guarda-chuva. Em comum, os termos guardam uma ênfase pedagógica do processo de internacionalização, além de um movimento no sentido de beneficiar todos os estudantes. Para isso atuam propositada e coordenadamente na inclusão das dimensões internacional, intercultural e/ou global nos conteúdos curriculares e nos resultados de aprendizagem, avaliação, métodos de ensino e etc.
Isso resulta em grande parte da presença ou ausência de políticas estruturadas da parte do Estado para apoiar e promover o processo. Por se tratar de trabalho complexo, exigindo adaptações únicas a cada instituição, a internacionalização empurra a comunidade acadêmica para fora de seus muros e de suas práticas mais tradicionais. Incentivos externos tais como políticas de avaliação, financiamento de pesquisas relacionadas ao tema, bem como programas específicos para atividades do tipo, entre outras, fazem a diferença no ritmo e na continuidade do processo de internacionalização do sistema pós-secundário das nações. Em países como o Brasil, por exemplo, onde o ensino superior é altamente regulado, o papel do governo torna-se ainda mais decisivo para o processo. Em cenários assim, incentivos à internacionalização em processo de avaliação de qualidade, base da regulamentação desse nível de ensino, por exemplo, são determinantes de adesão das IES ao processo. Em alguns países, a exemplo da Austrália, o incentivo vai muito além, na medida em que o país tem na chamada “diplomacia do conhecimento” uma estratégia de inserção global.
Trata-se de uma estratégia de influenciar e participar das decisões e das políticas globais a partir de um sistema de formação e produção de pesquisa altamente internacionalizado. Nesse modelo, as universidades precisam ser competitivas em nível global para serem capazes de ancorar o esforço nacional de inserção na economia, na política e na sociedade global. A Austrália vem trabalhando com afinco neste modelo de influência desde os anos 50, processo acelerado a partir dos anos 80 com a abertura completa da economia nacional. A inclusão por parte da Organização Mundial do Comércio (OMC), em 1995, de “serviços de educação superior” no conjunto de itens constantes do General Agreement on Trade in Services (Gats), fez com que esse passasse a ser também item relevante da pauta comercial entre países. Assim, a internacionalização da Educação Superior torna-se elemento estratégico de inserção global de países que apostam na diplomacia do conhecimento, reforçando a prioridade dos investimentos e das ações de incentivo a esse processo. Outros países reconhecidos internacionalmente pela prática da “diplomacia do conhecimento” são a Alemanha, Estados Unidos e o Reino Unido.
A “Educação 4.0” está ligada à construção de saberes que vão além de competências técnicas e tecnológicas, com uma abordagem crítica, holística e humanista, como resposta ao advento da indústria 4.0. Isso impulsionou a internacionalização como forma de responder à demanda crescente por excelência em formação e pesquisa nas universidades. Também criou uma grande pressão para que o Ensino Superior contribua com soluções para os efeitos potencialmente negativos da nova revolução industrial no mercado de trabalho, no uso de recursos naturais, no respeito à diversidade, na inclusão e na desigualdade social. Nesse cenário em que predominam redes e sistemas de conhecimento globais, as universidades se veem desafiadas a tornarem-se internacionalizadas, não mais como atividade marginal como acontecia com os programas de mobilidade. Precisam agora reinventar seu processo formativo e de produção de conhecimento para responder a problemas e demandas de grande repercussão. A “Educação 4.0”, que surge para atender esses múltiplos desafios, é necessariamente internacional porque o novo padrão de produção da indústria 4.0 assim o exige.
Num mundo em constante transformação tecnológica, desafiado pela urgência da sustentabilidade e da inclusão social, sedimentou-se o conceito de uma formação voltada para o desenvolvimento de competências, habilidades e atitudes essenciais ao Século XXI, entre elas a capacidade de se inserir globalmente a partir do contexto local. Preparar futuros profissionais com esse perfil torna a internacionalização do currículo ferramenta essencial para atender às exigências do mercado de trabalho. Isso inclui a participação proativa da comunidade e do setor produtivo na definição de competências, habilidades e atitudes, bem como em parcerias para sua efetivação. A maior parte dos países vêm se movendo, inclusive, para planejar e pensar a vida laboral no Século XXI como ciclos encadeados de idas e vindas entre mercado de trabalho e formação, sendo questões relacionadas a uma formação internacional e intercultural parte desse novo desenho de carreira.