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A evolução da internacionalização do currículo exige preparar todos os graduados para contribuírem ao mesmo tempo em sociedades locais e globais. Tal urgência trouxe desde 2015 uma mudança no foco da internacionalização do currículo.
A mudança proposta exige planejamento coordenado para alcançar metas específicas de melhoria da qualidade da educação e da pesquisa, envolvendo todos os alunos e funcionários, que gerem benefícios claros para além da comunidade acadêmica. Esse esforço é empreendido largamente por meio do currículo, peça chave na formação de pessoas e de valores centrais de disciplinas e profissões.
A Covid-19 veio enfatizar a complexidade da interconexão global, ao explicitar como políticas de governos nacionais e conglomerados regionais na produção e distribuição de vacinas, por exemplo, podem melhorar ou exacerbar desigualdades sociais e econômicas. A pandemia tornou clara também a importância de uma mentalidade global, tanto da parte de indivíduos quanto de líderes, no entendimento das repercussões de suas ações em pessoas próximas e distantes, atuando em soluções globais de problemas por meio de pesquisa e ação conjuntas.
Embora haja diferentes nuances regionais e nacionais em abordagens e terminologias, é possível destacar seis características do novo paradigma de internacionalização do currículo, todas conectadas à evolução para a “Educação 4.0”. A seguir, um pouco mais sobre elas:
O currículo formal é o conteúdo descrito na ementa e na programação ordenada e planejada de experiências e atividades de graduação. O currículo informal refere-se à aprendizagem fora da sala de aula em atividades organizadas não apenas pela universidade, mas por parceiros externos. Em geral são opcionais e não avaliadas e apoiam a aprendizagem -programas de tutoria por pares, sessões de estudo assistidas por pares e festivais culturais, entre outros. O currículo oculto compreende mensagens não intencionais e implícitas comunicadas nos currículos formal e informal.
Por exemplo, livros didáticos selecionados enviam mensagem oculta sobre conhecimentos que contam e os que não contam. Também são transmitidas quando, por exemplo, os alunos internacionais são obrigados a treinamento em habilidades interculturais e os domésticos não. Levantando perguntas como: os alunos domésticos já possuem tais habilidades? Ou estão dispensados dela, sendo exigidas somente dos estudantes internacionais que precisam se encaixar? Tais mensagens precisam ser percebidas e analisadas criticamente, sendo mudadas de acordo com a intencionalidade buscada para o sistema curricular.
Elementos formais, informais e ocultos são conectados e interagem na formação. Resultados de aprendizagem pretendidos, conhecimento da disciplina, pedagogia, conteúdo e experiências dentro e fora da sala de aula e avaliação são todos elementos que moldam a aprendizagem internacional e intercultural. Quando os três elementos atuam articulados, por uma decisão intencional da instituição, criam um ambiente poderoso e dinâmico de formação para todos os estudantes.
O foco nos resultados de aprendizagem e na preparação de todos os alunos, em lugar de atividades e contribuições que beneficiam uma minoria dos alunos, é parte importante do novo paradigma emergente de internacionalização do currículo.
Os dois princípios baseiam-se no entendimento de que o conhecimento é contextualmente situado, ao invés de objetivo e culturalmente neutro. Na prática, programas de estudo podem incluir espaço para que os alunos examinem criticamente os paradigmas de conhecimento dominantes, seus pontos fortes e fracos, sem se basearem em um conjunto estreito de visões de mundo.
O currículo informal também pode ser descolonizado com a inclusão de saberes em geral ausentes como é o caso dos indígenas e dos negros, entre outros. As próprias disciplinas têm fortes culturas de conhecimento. Tradições e paradigmas do conhecimento locais são frequentemente considerados menos valiosos, tanto no currículo formal quanto no informal. Criar uma cultura de campus que indique o valor atribuído às diferentes formas de ver o mundo sinaliza que todos são bem-vindos e agregam saberes relevantes.
A competência intercultural é claramente multifacetada e requer o desenvolvimento de habilidades, atitudes e conhecimentos complexos. No entanto, as discussões sobre pedagogias para a formação de competências interculturais eram limitadas até pouco tempo. Em parte porque a aprendizagem intercultural foi tomada erroneamente como resultado automático do contato entre diferentes no campus, nas aulas e no exterior.
É importante ressaltar que o conceito de interculturalidade não se refere apenas às relações que se desenvolvem entre indivíduos pertencentes a diferentes países ou regiões. Abrange pessoas da mesma comunidade, com diferentes bagagens étnicas, sociais e identitárias, entre outros. O aumento da diversidade nas comunidades locais e a massificação do ensino superior trouxe mais diversidade sociocultural à sala de aula.
Trazer a interculturalização para o primeiro plano tem vários efeitos. Amplia o escopo dos conceitos teóricos e ideias que influenciam o desenho de curso e a pedagogia. Em segundo lugar, quando torna-se uma estratégia institucional, faz do envolvimento com a diversidade em sala de aula e nas comunidades, algo tão importante quanto contatos internacionais.
Os alunos podem trabalhar em grupos ou sozinhos, por período curto para produzir um resultado tangível, compartilhado com os demais. A aprendizagem experiencial inclui o trabalho dos alunos em iniciativas comunitárias, seja em casa ou no exterior. A aprendizagem ativa pode ocorrer em sala de aula, on-line e no campus e está no centro do currículo internacionalizado. Embora a imersão em estudos no exterior tenha sido vista como prática ideal durante muito tempo, tal visão está cada vez mais em cheque. Combinações inovadoras de atividades presenciais e on-line com foco no desenvolvimento de todos os alunos, conhecimentos, habilidades e atitudes interculturais e internacionais (sua interculturalidade) também assumiram uma importância maior durante a pandemia.
Em outros locais, o foco tem estado na empregabilidade e na preparação de graduados para o mercado de trabalho, como é o caso do Reino Unido e da Austrália. O contexto inclui também a dimensão disciplinar, institucional, nacional, regional e global e como interagem entre si.
Outro elemento-chave é trabalhar com os alunos como parceiros no processo de internacionalização do currículo. Significa trazer estudantes para participarem e contribuírem na conceituação, tomada de decisão, práticas de ensino, aprendizagem e avaliação. A pesquisa de Green (2018) sobre o tema, no entanto, constatou que usar os alunos como parceiros desafia práticas institucionais naturalizadas. O trabalho sugere que fazer dos alunos parceiros é uma maneira poderosa de criar formas mais inclusivas e igualitárias de internacionalização do currículo em casa.