Cuidados com a saúde mental em tempos de isolamento social
Artigo desenvolvido pela equipe do Núcleo de Apoio Psicossocial da PUCRS
Foto: Getty Images/iStockphoto
A humanidade está passando por uma de suas maiores crises, que terá sérios impactos econômicos, sociais, políticos e, principalmente, sobre a saúde da população. Iniciamos o nosso ano letivo com muitas perspectivas e expectativas de novos projetos e sonhos. De repente, um inimigo invisível nos obriga a retornarmos para as nossas casas e nos faz experimentar uma vivência sem precedentes: a vivência do isolamento social com uma das principais estratégias de protegermos. Este isolamento está causando sérios impactos que precisam ser compreendidos e analisados a partir do contexto social que estamos vivendo.
Passamos por uma situação de crise e apesar de sabermos da necessidade de realizarmos o isolamento social e dos riscos que corremos ao não fazê-lo, estar nesta situação é uma experiência desagradável, pois ela reflete em separação de entes queridos, perda da liberdade, incerteza sobre o status da doença e uma boa dose de tédio.
As pessoas reagem e sentem a situação de forma diferente. Algumas se sentirão sobrecarregadas, confusas, desorientadas, amedrontadas, ansiosas, anestesiadas ou insensíveis. Estas reações podem ser leves ou extremas e dependem de fatores como a natureza do evento que provoca a crise; as vivências anteriores de situações como esta; estado de saúde física e mental; fatores culturais e idade. Estes fatores fazem com que as pessoas desenvolvam suas próprias estratégias para lidar com a situação, que vai da negação à aceitação do problema e da realidade. A maioria das pessoas consegue enfrentar estes impactos e, progressivamente, se adapta ao novo contingente.
No entanto, também podemos nos tornar mais vulneráveis e tender a reações psicológicas diversas à crise. Estas podem se manifestar através de sintomas físicos como, por exemplo, tremores, palpitação, agitação, dores de cabeça e cansaço. Outros sinais como choro, tristeza, sentimento de solidão, medo, incapacidade e frustração; ou ainda sintomas como ansiedade, alterações no sono, desorientação, entre outros.
“…estarmos atentos a nós mesmos, ajuda a detectar os impactos e as reações psicológicas e nos possibilita adotar estratégias que contribuam para minimizar possíveis consequências.”
Uma medida favorável em momentos como o que estamos passando é a capacidade de auto-observação, estarmos atentos a nós mesmos, ajuda a detectar os impactos e as reações psicológicas e nos possibilita adotar estratégias que contribuam para minimizar possíveis consequências. A atitude de buscar somente informações adequadas de órgãos oficiais e uma ou poucas vezes ao dia contribui para uma compreensão real do problema e não alimenta fantasias.
Reduzir o tédio, mantendo uma rotina de estudos e trabalho da forma mais aproximada do que acontecia anteriormente, ajuda a evitar a sensação de descontinuidade. Para isto é muito importante que a comunidade acadêmica entenda que este é um momento histórico e global, em que as decisões e estratégias são contextualizadas a partir de uma realidade macro para garantir minimamente o bem-estar de toda sociedade.
Contar com a rede social primária e secundária (familiares e amigos) possibilita a continuidade dos vínculos de afeto e, para isto, pode-se acionar as redes sociais digitais. Abrir-se e disponibilizar-se para aprender conteúdos e novos saberes através de leituras e aulas na modalidade online, pode se constituir em momentos prazerosos e de satisfação de que o tempo esteja sendo aproveitado da melhor forma possível. Construir um entendimento de que a humanidade está passando por esta crise contribui para que continuemos nos sentindo pertencentes a uma grande rede de relações diminuindo o sentimento de solidão em relação ao problema e proporcionando maior probabilidade de se colocar no lugar do outro. Mais do que nunca, precisamos saber nos colocar no lugar do outro.
Neste sentido, a empatia pode ser compreendida como colocar-se no lugar do outro, acolhê-lo, recebê-lo, escutá-lo com o objetivo de compreender a sua situação, sem julgamento prévio. No momento atual em que vivemos sob o medo de um inimigo invisível aos olhos da humanidade, a empatia também se expressa em nos recolhermos em nossas casas para nos protegermos e protegermos aqueles que fazem parte da nossa rede de relações. O inimigo invisível nos obriga ao isolamento e, com isto, voltamos à caverna para nos protegermos, porque sabemos que o perigo está lá fora, não sabemos onde, mas sabemos que ele está lá.
É preciso saber se colocar no lugar do outro, entender que o outro talvez necessite muito mais do que eu, da última máscara e do álcool gel da farmácia. Empatia, solidariedade e compaixão, uma tríade para compreendermos melhor a nossa condição humana em tempos em que precisamos cuidar da nossa saúde mental. Isso para enfrentarmos os desafios que o mundo nos impõe, mesmo que muitas vezes, o inimigo seja invisível, não palpável, mas pode ser letal, e levar à finitude da vida se não tomarmos uma decisão responsável de cuidarmos de nós e dos outros com um verdadeiro sentimento de unidade.
O Núcleo de Apoio Psicossocial composto por uma equipe multidisciplinar, vinculado ao Centro de Apoio Discente da PUCRS, tem na sua identidade de serviço institucional, uma longa história de acolhimento, apoio, acompanhamento e encaminhamentos junto a estudantes e professores da Universidade. São múltiplos olhares voltados ao cuidado humano, principalmente sobre os aspectos psicossociais e de sofrimento psíquico que afetam e impactam diretamente a vida acadêmica de nossos estudantes. Trata-se de um espaço de acolhimento, escuta, intervenção e mediação no apoio às necessidades da comunidade acadêmica.
Participaram da elaboração deste artigo os(as) profissionais Alfredo Cataldo Neto, Psiquiatra; Angela Seger, Psicóloga; Carla Villwock, Psicóloga; Francisco Arseli Kern, Assistente Social; Rafael Maihub, Psicopedagogo; e Vanessa Manfredini, Psicóloga.
Saiba mais: Centro de apoio discente da PUCRS segue com atendimentos online